À custa do Matias (mais uma vez...), acabo de descobrir um fabuloso cronista - José Manuel dos Santos. De costas voltadas para o Expresso há já muitos anos, principalmente devido à obsessão pela economia e adjacências (que saudades da velha Revista, dirigida nos anos 80 pelo Vicente Jorge Silva!...), não contava por lá encontrar quem usasse da palavra de modo tão magnífico. Quando começo a ler o texto sobre Eduardo Lourenço (7 de Julho de 2008):
Todos somos heterónimos do tempo: aqueles que ele cria e destrói para nisso, e em nós, se multiplicar.Sinto de imediato o relâmpago da novidade: não é qualquer um que escreve isto! E mais à frente:
Na sua conversa [Eduardo Lourenço], há gravidade e graça, cidade e província, mundo e narrativa, texto e comentário, interior e exterior. E há uma malícia que se ri da sua pontaria fulminante. De tantas e tão grandes virtudes intelectuais que possui, há uma que é o princípio de todas as outras - a atenção subtil. Raros são os homens com uma atenção assim: tão distraída, tão fina e tão intensa. Distraída do quotidiano e das suas utilidades. Atenta ao coração do mundo.
Não é necessário mais. O melhor é ler as crónicas todas. O Expresso fez-me o favor de ter em arquivo as últimas (desde 28 de Abril).
Entretanto, numa busca rápida no Google, encontro no DN online que "José Manuel dos Santos recebeu o prémio João Carreira Bom 2006, que distingue as melhores crónicas jornalísticas".
As suas palavras de agradecimento foram de um raro pudor. E o pudor não está ao alcance de qualquer um...
"Não há alegria mais serena que a que nasce do coração agradecido", disse, afirmando estar grato "por terem reparado na [sua] discrição". E sublinhou: "Escrevo crónicas que falam muito do que se fala pouco e falo pouco do que se fala muito".
Sem comentários:
Enviar um comentário