Ser livre

Para afastar azedumes, deixo aqui uma frase encontrada no Público de hoje e que é das mais inspiradoras que jamais li:

Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer a minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der.
Carl Gustav Jung

(Ex)citações...

Todos os dias aparece aflitíssima nos jornais uma chusma a clamar a inadiável reforma da administração pública, como se esta fosse a origem de todos os males. A esses, se pudesse, berrava ao ouvido uma frase recente do ministro das finanças (que não encontrei nos mesmos jornais no dia seguinte!...) e que cito de memória:

Se todos pagassem impostos, pagaríamos menos 38% de IRS e menos 25% de IVA.

Os papistas e os papos-secos

Uma verídica sobre a greve de hoje:
Numa escola de Gaia, não havendo condições para fornecer almoços na cantina, o Conselho Executivo informou os alunos que teriam de comer no bufete. Ementa: pães com fiambre.

Quadros Interactivos

Agora que os Quadros Interactivos começam a aparecer com frequência nas salas de aula, aqui ficam duas ligações que poderão ser úteis para quem se está a iniciar na sua utilização:

Já agora, deixo também um slideshow interessante sobre o assunto, da autoria de José Paulo Santos:

Tempo, tempo, tempo

Quase duas semanas depois da última entrada, faz todo o sentido "regressar" com algumas citações colhidas recentemente sobre o tempo - esse bem cada vez mais escasso e sem o qual poderemos ser bons funcionários mas nunca bons professores:

Matias Alves, no
Terrear:

Evidente que o tempo é hoje nas nossas escolas o factor crítico número um. Porque é escassíssimo. Porque se dispende enormemente. Porque muitas vezes é tempo perdido (como aqui também já escrevi, várias vezes). Porque nos afogamos em papéis. Porque estou a deixar de ser aluna e assim não poderei ser professora, numa confissão lancinante de uma professora.
Teresa Martinho Marques, no Tempo de Teia:
Das 8 às mais que 8. Já não chove só do lado de fora. Há uma chuvinha aqui por dentro a marcar o compasso dos dias. Tento sacudi-la. Às vezes não é fácil.
Miguel Pinto, no Correio da Educação:
A intensificação do trabalho docente vai fazendo as suas vítimas, paulatinamente. Sentimentos de culpa, isolamento, ansiedade e frustração, são alguns dos efeitos da mudança que tem sido introduzida, compulsivamente, pela via legislativa no trabalho dos professores.
Acho que em breve seremos confrontados com estatísticas que irão revelar a queda drástica do absentismo dos professores. O que esses números não dirão é da queda drástica da saúde mental dos mesmos. E do empobrecimento da sua acção pedagógica.

P.S.: Segundo o relatório OCDE sobre a educação de 2007, os mexicanos passam o dobro do tempo que nós passamos na escola durante um ano. No entanto, os resultados do seus alunos em provas internacionais ainda são piores do que os nossos...

P.P.S.: Acabo de descobrir que o Matias Alves, ontem mesmo, falou deste assunto. Obrigatório ler.

P.P.P.S. (e último...): a semana passada, um colega confidenciou-me que já ia na sua 28ª reunião desde o início do ano lectivo. Pode haver quem chame a isso "produtividade". Não eu.

10 ideias para melhores aulas

Já há cerca de dois meses tinha falado do Edutopia, a fundação do George Lucas dedicada à educação. Não há dúvida que o Edutopia é mesmo um portal educativo a explorar e seguir com atenção.
Hoje trago dois belos exemplos do que por lá se encontra:

  • Uma listagem de dez ideias que podem transformar as aulas. Excerto:

Students

  1. Engage: Project-Based Learning
  2. Connect: Integrated Studies
  3. Share: Cooperative Learning
  4. Expand: Comprehensive Assessment

Teachers

  1. Coach: Intellectual and Emotional Guide
  2. Learn: Teaching as Apprenticeship

Schools

  1. Adopt: Technology
  2. Reorganize: Resources

Community

  1. Involve: Parents
  2. Include: Community Partners

Nova 5000 - Pai Natal, estás-me a ouvir?...

Quem é professor de Físico-Química não pode deixar de ficar babado ao ter conhecimento da existência do Nova 5000, uma maquininha que faz o dois-em-um: computador pessoal e interface de aquisição de dados experimentais.
Segundo a Fourier Systems, a empresa que o comercializa:

"Nova5000 offers schools a price performing solution for their basic student computing needs, in the classroom, in the lab, at home and for outdoor activities by combining powerful computing performance with patent pending data logging functionality.

National Science Foundation research demonstrates that probeware functionality can substantially improve student achievement in mathematics and science. The Nova5000 is the perfect device for 1:1 initiatives, science classrooms and general student computing."

Para se ter uma melhor percepção da coisa o melhor é visitar o product tour.

Atenção, Conselho Executivo da minha escola: vai uma prendinha de natal para o grupo disciplinar de Físico-Química?... :-)

Um debate americano sobre educação

Já aqui falei do projecto Fora.tv e do enorme acervo de vídeos que por lá podemos encontrar sobre conferências, colóquios, apresentações, debates, etc.
O vídeo abaixo é longo (2 horas...) mas parece-me bastante interessante. Fala-se dos desafios da educação americana para os próximos anos.
Uma das vantagens dos vídeos do Fora.tv é o facto de se poder saltar para um ponto específico do debate - basta clicar em "Open Tools" (quanto inferior esquerdo) e escolher o tópico. Por exemplo, aos 22 minutos do debate, é feita uma citação em que se afirma que "a escola foi a única instituição social que atravessou o século XX inalterada"... Por volta dos 44 minutos, fala-se de aprendizagem baseada em projectos...

Future Lab

FutureLab is passionate about transforming the way people learn. Tapping into the huge potential offered by digital and other technologies, we develop innovative resources and practices that support new approaches to learning for the 21st century.

(Ex)citações da matéria

You cannot teach a man anything; you can only help him find it within himself.
Galileu

Soap and education are not as sudden as a massacre but they are more deadly in the long run.
Mark Twain


It is a miracle that curiosity survives formal education.

Albert
Einstein

No walls, no classes, no teachers, no bells...

Ainda me estou a rir.
Nem há dois dias aqui coloquei o texto que enviei para o Correio da Educação, armado em provocador, dizendo que dentro de dez anos as boas escolas não terão "aulas", nem "disciplinas", e que os professores serão em reduzido número... E hoje, através da KnowledgeWorks Foundation, de que já falei, encontro um artigo na National Public Radio que tem o desplante de me informar que o meu calendário está DEZ anos atrasado!
O melhor é ler o artigo todo. Entretanto, fica aqui um cheirinho:

  • No classes. Students work on projects they select themselves. Projects are tailored to fulfill state curriculum requirements.
  • No teachers. Students consult with "advisers" who are available through the day to guide their work. Advisers do not "teach" in the traditional sense. They guide students' work.
  • No hierarchy. The school is run like an agricultural cooperative. Advisers are owners, rather than employees. There is no principal.
  • No bells, no firm schedule. Time is set aside for lunch and for quiet reading. Other than that, students choose how to spend their time. If they fall behind, advisers help them get back on track.
  • No walls. Students work in an open environment and can confer with other students and advisers as needed. There's no central office.
  • And no janitors. Students clean the bathrooms and the rest of the school themselves.

DIKW

Where is the Life we have lost in living?
Where is the wisdom we have lost in knowledge?
Where is the knowledge we have lost in information?

T. S. Eliot (1888-1965), The Rock (1934)

[Retirado de Leader Talk]

Do Futuro - Matéria Escura

Desafiado pelo Matias Alves (do Terrear) a escrever um texto para o Correio da Educação sobre a os quotidianos escolares, andei vários dias à procura de palavras de esperança, de territórios felizes, de um olhar luminoso através das negras nuvens. E não me saiu nada. Não me saiu nada que pudesse ser "publicado".
Nos últimos tempos olho em volta e vejo tanto cansaço, tanta desesperança, que as palavras resultam sempre pobres e amarguradas. Decidi então que falaria de questões concretas: a revolução digital que se inicia nas escolas e os desafios do futuro. Pretendia uma coisa em jeito de provocação, que desassossegasse.
No entanto, quando os nossos olhos estão turvados é impossível vislumbrar a claridade. Afinal de contas, nunca falamos se não de nós mesmos... Como se pode aferir no texto que acabei por enviar e que se encontra no Correio da Educação de 5 de Novembro. Já agora, reproduzo o texto aqui (com ligeiras alterações):

O jogo acabou de começar e é já um jogo perdido.

Nos próximos dez anos a educação vai sofrer alterações mais profundas do que nos últimos séculos conjuntamente considerados.

Vejamos: o que (ainda) é uma sala de aula? Um professor, vinte e tal alunos, um quadro e giz. O que será uma sala de aula de uma (boa) escola daqui a dez anos? Nada. De outro modo: o conceito de "sala de aula" perderá propriedade. Haverá salas, alunos e (poucos) professores. Mas não "salas de aula". Em boa verdade não haverá "aulas". O conceito de "aula" coloca o professor no centro. E o centro vai definitivamente deslocar-se para o aluno. (Pois, eu sei, isto é a conversa estafada do construtivismo que não deu em nada. Mas não deu em nada porque ainda não dispunha das ferramentas necessárias. Do mesmo modo que a globalização não deu em nada até terem chegado os barcos, os aviões, os satélites, as televisões...).

As ferramentas da revolução estão agora a chegar às escolas. Chamam-se computadores pessoais. Ao longo dos últimos anos, sempre que se fala da entrada dos computadores na escola, logo alguém se apressa a sossegar os espíritos: "Mas os professores serão sempre necessários!". Mentira piedosa. O número de professores necessários será claramente menor. Arrisquemos: metade. Parece-me, por exemplo, que ao longo dos primeiros nove anos de escolaridade um só professor será suficiente para uma turma de vinte alunos. Os computadores vão transformar radicalmente a escola: os lugares, os tempos, os agentes, o currículo. Por exemplo: deixará de existir "disciplinas". Serão substituídas por "actividades" e "projectos". Já hoje, há disciplinas que não têm razão de existir: são meramente descritivas, pouco mais do que catálogos de conhecimentos. Não exigem a presença de um professor. Exemplos há muitos. Qualquer adolescente minimamente autónomo que saiba ler, pesquisar, seleccionar, compilar e tratar informação, possui as competências bastantes para apreender conteúdos de Geografia, História, Ciências e Inglês. E até muita Matemática. E até algum Português. O professor passará a desempenhar um papel fundamental apenas nas vertentes intrinsecamente humanas: atitudes e valores.

Voltemos ao início: afirmei que este é já um jogo perdido. Com efeito, o sistema educativo português reúne todas as condições para perder a batalha da "sociedade da informação". Os professores, provavelmente mais do que em qualquer outra época, encontram-se profissionalmente deprimidos. Os últimos anos foram extremamente penalizadores. Além dos domínios simbólico (estatuto social) e substantivo (carreiras e remunerações), as efectivas condições de trabalho agravaram-se. A sobrecarga horária a que foram sujeitos, numa deriva "proletarizante", veio roubar-lhes os recursos fundamentais para aderirem à mudança: a energia renovadora, o entusiasmo mobilizante, a reflexão fecunda. O computador é uma ferramenta delicada e exigente — exige paciência, persistência, prática, ou seja, o que cada vez menos os professores têm: tempo. Além disso, o aumento da idade da reforma vai manter no sistema, mais tempo do que seria desejável, muitas das pessoas a quem a revolução digital, iniciada há quinze anos, passou ao lado.

Recentemente, fomos informados de que nos próximos tempos as escolas serão "bombardeadas" com equipamento informático. Boas intenções. Mas já estou a imaginar muito hardware desaproveitado enquanto, esmagados, os professores se afadigam a dar resposta ao monstruoso monumento formal em que a vida escolar se transformou nos últimos anos: planificações, articulações, reuniões, planos de recuperação, actas, grelhas de avaliação, mais reuniões... A lógica jurídica entrou no sistema de ensino e está a matá-lo. Em vez de terem uma atitude criativa, desbravando novos caminhos, os professores defendem-se dos encarregados de educação, defendem-se das inspecções, defendem-se de toda uma sociedade que lhes aponta o dedo quando se sabe os resultados dos exames. Tudo minuciosamente explicitado, cada decisão detalhadamente justificada. Neste clima, não há uma verdadeira disponibilidade para fazer o necessário: aproveitar a chegada da nova ferramenta e repensar de cima a baixo os modos de trabalho escolar. Essa é uma tarefa colossal, extremamente desgastante. Os países do primeiro mundo já a iniciaram. Nós vamos perder mais uma oportunidade.

Como é óbvio, o que mais desejo é estar redondamente enganado.

Classroom of the Future Is Virtually Anywhere

"Welcome to the brave burgeoning world of online education. It’s a world most of us, whether we like it or not, will have to grapple with, as students, tuition-paying parents or employees. Nearly 3.5 million college or graduate students, one of every five, took at least one online course last fall, double the figures of five years earlier.(...)

Online courses may not be suited to subjects like laboratory science or theater, but can work fine for the nut-and-bolts information and analysis required in a history survey or for the editing needed for a basic writing course."
Um artigo interessante no New York Times.

Laptops are 21st Century Pencils

"Portable, wireless, laptop computers will be the pencils of the 21st century classroom. In classrooms engaged in 1 to 1 laptop learning initiatives now, this is already true. According to PEW Internet and American Life Project research, the Internet is already the place most students (who have access to it) choose to go first for information they need both at school and at home."
Ler o artigo completo no TeachLearning Blog