Uma introdução antropológica ao YouTube

O conhecido Michael Wesch, professor de antropologia da Kansas State University, que ficou famoso pelo vídeo "The Machine is Us/ing Us" (visto quase 7 milhões vezes!...) produziu recentemente um novo vídeo que constitui uma espécie de estudo antropológico sobre o próprio YouTube... São 55 minutos interessantes, que mais para o final são mesmo poéticos e comoventes:



Já agora, aproveito para colocar aqui um outro vídeo de uma conferência dada pelo mesmo Michael Wesch na Universidade de Manitoba, Canadá, em 17 de Junho passado. Mais de uma hora a reflectir quais as implicações possíveis das novas tecnologias no mundo da educação. Intitula-se "A Portal to Media Literacy":

Já meteste o Magalhães na pasta?

Uma escola de doentes?

Acabo de ver na RTP 2 um documentário sobre os trabalhos de um cientista especializado em comportamento animal. Durante anos desenvolveu estudos com grupos de babuínos e fez descobertas que vão muito de encontro às que têm sido feitas pelos psicólogos experimentais relativamente aos humanos. Parece que há um factor, nos dois casos, que tem uma implicação directa no bem-estar, felicidade e florescimento dos indivíduos - a sensação de controlo. Quanto maior for a implicação do sujeito na sua actividade e maior a importância atribuída ao seu contributo, maior serão as probabilidades do mesmo ter uma vida mais saudável. A percepção de que aquilo que damos aos outros é importante e que as nossas opiniões são tidas em conta na tomada de decisões favorece-nos a saúde, tanto fisica como psicologicamente.

Talvez por isso Kevin Fox, ao sair da Google, tenha deixado um enorme elogio:

Google is the first place I've ever worked where I feel that I'm part of the company as opposed to working for the company.
E apetece perguntar: a escola que aí vem, onde os professores claramente passarão a ser tratados como funcionários, onde terão de humildemente cumprir as ordens do Sr. Director, onde a sua voz cada vez mais se distancia do núcleo onde as decisões são tomadas, essa escola que aí vem, perguntava, será uma escola de professores doentes?
Comparando os estados de espírito dos tempos mais recentes com os de há não muitos anos a resposta parece-me evidente.
Mas tudo isto são minudências demasiado subtis para os bárbaros. O que lhes interessa não será exactamente a felicidade dos que tutelam...

Links da semana (weekly)

O que fazer antes de morrer

A Esquire faz uma lista muito bem humorada das 75 coisas que todos devíamos fazer antes de morrer. Entre as inúmeras propostas há uma que destaco (vá lá saber-se porquê...):

Take care of someone else’s three-year-old for a day.

It may be rough going. But you’ll never learn a child’s humanity with a howdy-do. Time is the best gift you can give a child. The parents like it, too.

Subscrevo!

Links da semana (weekly)

Abertura de espírito

Nota prévia: esta entrada utiliza o serviço Apture que permite a criação de ligações sem sair desta página... Basta passar com o rato por cima das ligações assinaladas com um pequeno ícone. Para ver os vídeos em tamanho maior, clicar no ícone de fullscreen, em cima à direita.

Em tempo de Verão, o calor aperta e o miolo liquefaz. A parvoeira borbulha e vem ao de cima. Silly season, dizem eles... Entrando na onda, vou colocar alguns vídeos que me chamaram a atenção ultimamente. Enfim, apenas pretexto para mostrar as potencialidades do Apture, um serviço que acrescenta uma nova dimensão a uma simples página web. E não se fica pelos vídeos, também se pode fazer ligação a música, documentos, etc. Então vá:

  • Comecemos pelo Chris Crocker e o seu The Hairflip! - uma forma de aprender o que fazer naquelas situações em nada nos ocorre para dizer...
  • Não se pode perder também o Judson Laipply a recordar a dança nos últimos 50 anos - em apenas 6 minutos!
  • Não dança muito, é certo, mas não se pode pedir mais ao incontornável Waits. Neste vídeo afirma que não quer crescer. Somos dois, Tom!
  • Sendo professor, e quando penso em Setembro próximo, vem-me sempre à memória uma música dos UHF... Adivinhem qual é.
  • Enfim, hei-de sobreviver. Digo eu, mas não estou certo disso. Principalmente depois de assistir ao que aconteceu ao Cristo pós-moderno. Fia-te na virgem e não corras!
  • Mas, mesmo que algo de errado venha a acontecer, há sempre a possibilidade da ressurreição - Aleluia!

Já chega! Vou apanhar Sol.
Porque o que verdadeiramente importa na vida é o creme solar.
Tenho dito.

Google Docs tem centenas de modelos (templates)

O Google Docs, serviço de office online, vai acrescentando novas características a um ritmo interessante, mas sem nunca deixar o utilizador desorientado com mudanças radicais de organização do interface. Recentemente, foi acrescentada a possibilidade de trabalhar nos documentos em offline, ou seja, mesmo que não se tenha acesso à net, podemos fazer as alterações pretendidas e, quando o acesso for possível, o sistema faz uma sincronização automática. ;-)

Esta semana, mais uma novidade - templates for the people! E não são meia dúzia deles, são literalmente dezenas. Para documentos escritos (tipo Word), para apresentações e (principalmente) para folhas de cálculo. Neste último caso é possível encontrar um modelo de folha de cálculo para quase tudo o que nos lembremos - até para essa cena tão old fashion que são as listas e os álbuns de casamento. Querem ver um exemplo? Está aqui.

No vídeo abaixo, alguma malta que trabalha para o Google explica como faz para manter as finanças na ordem usando uma folha de cálculo. E parecem felizes...



Com estas ferramentas a ficarem cada vez mais robustas, as ligações à net cada vez mais rápidas e ubíquas e os portáteis a ficarem efectivamente portáteis (quer no tamanho, quer no preço...), tudo se conjuga para que o velho sonho da Sun - que agora dá pelo nome de cloud computing - se venha a concretizar em breve... Já agora, deixo abaixo uma reportagem da Globo sobre o assunto, na qual é entrevistado Eric Schmidt, CEO da Google.

Ouviram?...

Perguntou-se a Eric Schmidt, CEO da Google, o que poderiam as empresas vulgares aprender com a prática da sua empresa. A resposta foi pouco habitual:

They can learn to listen. Listening to each other is core to our culture, and we don’t listen to each other just because we’re all so smart. We listen because everyone has good ideas, and because it’s a great way to show respect. And any company, at any point in its history, can start listening more.
Talvez por esta e por outras a Google é o que é...

Abandono escolar

Andava a explorar o Swivel, um interessante serviço de dados e representações gráficas, quando encontro um gráfico sobre o abandono escolar nos países desenvolvidos no anos de 2005 e 2006. Nada que ainda não se soubesse. Mas dói.
Abaixo aparecem apenas os 10 "melhores" classificados.
Early School Leavers: Comparison among Developed Countries for year 2005, 2006

Links da semana (weekly)

  • Interessante artigo de Koïchiro Matsuura, Director-Geral da Unesco, sobre o impacto da partilha do conhecimento.

    tags: UNESCO, Koïchiro Matsuura, knowledge, sharing

    • o potencial de desenvolvimento de uma sociedade dependerá no futuro menos das riquezas naturais e mais da capacidade de criar, distribuir e utilizar o conhecimento.
    • Em sociedades interligadas, criatividade e possibilidades de troca ou partilha são grandemente aumentadas. Estas sociedades criam um ambiente particularmente favorável ao conhecimento, inovação, formação e pesquisa. As novas formas de sociabilidade em rede que estão a desenvolver-se na Internet são horizontais e não hierárquicas, encorajando a cooperação, como é bem ilustrado pelos modelos de software de computador de pesquisa "colaboradora" ou "fonte aberta".
  • Um documento do Gabinete de Estatística e Planeamento do Ministério da Educação relativo a 2006/07.

    tags: education, statistics, GEPE, teachers, K12

  • Manual básico de estatística do INE.

    tags: statistics, ine, estatística, maths

José Manuel dos Santos

JM SantosÀ custa do Matias (mais uma vez...), acabo de descobrir um fabuloso cronista - José Manuel dos   Santos. De costas voltadas para o Expresso há já muitos anos, principalmente devido à obsessão pela economia e adjacências (que saudades da velha Revista, dirigida nos anos 80 pelo Vicente Jorge Silva!...), não contava por lá encontrar quem usasse da palavra de modo tão magnífico. Quando começo a ler o texto sobre Eduardo Lourenço (7 de Julho de 2008):

Todos somos heterónimos do tempo: aqueles que ele cria e destrói para nisso, e em nós, se multiplicar.
Sinto de imediato o relâmpago da novidade: não é qualquer um que escreve isto! E mais à frente:
Na sua conversa [Eduardo Lourenço], há gravidade e graça, cidade e província, mundo e narrativa, texto e comentário, interior e exterior. E há uma malícia que se ri da sua pontaria fulminante. De tantas e tão grandes virtudes intelectuais que possui, há uma que é o princípio de todas as outras - a atenção subtil. Raros são os homens com uma atenção assim: tão distraída, tão fina e tão intensa. Distraída do quotidiano e das suas utilidades. Atenta ao coração do mundo.

Não é necessário mais. O melhor é ler as crónicas todas. O Expresso fez-me o favor de ter em arquivo as últimas (desde 28 de Abril).
Entretanto, numa busca rápida no Google, encontro no DN online que "José Manuel dos Santos recebeu o prémio João Carreira Bom 2006, que distingue as melhores crónicas jornalísticas".
As suas palavras de agradecimento foram de um raro pudor. E o pudor não está ao alcance de qualquer um...

"Não há alegria mais serena que a que nasce do coração agradecido", disse, afirmando estar grato "por terem reparado na [sua] discrição". E sublinhou: "Escrevo crónicas que falam muito do que se fala pouco e falo pouco do que se fala muito".

O copy-paste e a 3ª Guerra Mundial

Segundo o Público de hoje, ocorreu um incidente diplomático durante a cimeira do G8 que decorreu esta semana no Japão. Segundo este jornal relata, os americanos fizeram distribuir uma nota na qual constava um resumo biográfico de Silvio Berlusconi, onde se podia ler que o primeiro-ministro italiano é:
"Um dos mais controversos líderes na história de um país conhecido pela corrupção governamental. (...) é visto por muitos como um diletante político que apenas obteve o seu alto cargo por meio da considerável influência exercida sobre os media nacionais, até ter sido obrigado a demitir-se em 2006."
Perante a estupefacção generalizada, os americanos lá tiveram que pedir desculpa e esclareceram que os excertos foram copiados da Internet, nomeadamente da Encyclopedia of World Biography.
É caso para dizer que com assessores destes não há Bush que resista... Por outro lado, não deixa de ser um alívio que a vítima tenha sido Berlusconi. É que se o incidente se tivesse passado com os russos, quer-me parecer que a esta hora estaríamos agachados a ver os mísseis cruzar os céus. É o que dá o copy-past!... LOL.
Já agora: já alguém leu o famoso Tratado de Lisboa? Eu também não, mas começo a suspeitar que as dificuldades de interpretação do mesmo se devem ao facto de alguém se ter lembrado de fazer copy-past do... Tratado de Tordesilhas. É apenas uma ideia. Big LOL.

Para que serve a escola?

Só quem não dá aulas (ou o faz distraidamente)  é que não percebe que, havendo exames com intuitos classificativos e implicação directa nas opções profissionais dos alunos (e não como simples processos de aferição das aprendizagens, como deviam ser...), necessariamente se introduz um efeito perverso no interior da sala de aula que inquina todo o processo de ensino-aprendizagem, transformando-o num treino de "cães amestrados" e arredando todo e qualquer pensamento crítico sobre os conteúdos que são objecto de estudo, deste modo desvirtuando a função primordial da educação. (É claro que esta discussão também é ideológica: sabemos bem a quem interessa formar "bons trabalhadores" e detrimento de "cidadãos com espírito crítico"...)

Para quem, ao arrepio do pensamento (quase) único, não se conforma com a existência de Exames Nacionais nos moldes actuais, é reconfortante ler este texto de Palmira F. da Silva, no De Rerum Natura, onde esta professora, apesar de não discordar da existência de exames, enuncia claramente alguns dos seus efeitos perversos. Apenas algumas frases:

(...) Mais concretamente, na afirmação produzida nos segundos finais do minuto 4, a ministra destaca como muito positivo o «treino» dos alunos na resolução de provas: «Treinando os alunos para o exame. É muito importante treinar os alunos para o exame».
Fico horrorizada com esta assumpção cândida e pública do que parece ser o objectivo do ensino no secundário para o ME: treinar os alunos para terem bons resultados nos exames, transformando-os em «máquinas» de decorar resoluções de exercícios sem perceberem minimamente os conteúdos subjacentes, conteúdos que já de si deixam muito a desejar.
Treinar os alunos para exames é mau, porque dá a ideia de que o importante não é desenvolver capacidades cognitivas mas sim mecanizar resoluções sem pensar muito sobre elas. É especialmente mau porque os alunos são «formatados» nestas resoluções sem desenvolverem pensamento autónomo e crítico.

Links da semana (weekly)

Do Futuro, segundo Raymond Kurzweil

Um interessante vídeo da RTE com uma entrevista a Raymond Kurzweil, um dos pensadores mais conceituados da actualidade. Fala-se do futuro próximo e da integração do biológico e do orgânico. Onde, a certo ponto, se pergunta "o que é ser humano?" - o conhecimento do passado e a perspectiva do futuro como agentes pacificadores do presente...

Vídeo retirado do canal "Redes", da Blip.tv.