e-Learning e comunidades

A comunidade online Escola 2.0, fundada pelo professor Fernando Costa, organizou recentemente uma conferência subordinada ao tema "e-Learning e Comunidades". Da sessão, com a participação do professor João Paiva, ficou o registo em vídeo que abaixo segue (qualidade de imagem sofrível...):


Já agora:

Ensinar para o exame

Na Amazon, enquanto procuro livros sobre "project based learning" com enfoque nas ciências, e a propósito do livro "Problem-Based Learning for Math and Science: Integrating Inquiry and the Internet", encontro um comentário de uma leitora que diz o seguinte:

A new instructional paradigm has emerged, one very much affected by recent cognitive and neuroscientific research. One in which skills such as problem solving and critical thinking as well as the ability to rapidly acquire, process, and apply new information, have become vital to success. Yet, as we all know too well, school reform in America today is primarily a matter of ratcheting up standards and then testing children to make certain they are measuring up. There is little time left to devote to the development of intellectual curiosity or any sense of 'meaningful' learning. The current 'teaching-to-the-test' hysteria deprives students of real mental challenge.
Não é que valha de grande coisa, mas sempre consola um pouco confirmar que não estamos sós na lógica absurda do quanto-mais-exame-melhor...

Trabalhadores da informação

Na BBC, com a data de hoje, Bill Gates assina um pequeno mas muito interessante artigo onde afirma:

One of the most important changes of the last 30 years is that digital technology has transformed almost everyone into an information worker.
In almost every job now, people use software and work with information to enable their organisation to operate more effectively.
That's true for everyone from the retail store worker who uses a handheld scanner to track inventory to the chief executive who uses business intelligence software to analyse critical market trends.
So if you look at how progress is made and where competitive advantage is created, there's no doubt that the ability to use software tools effectively is critical to succeeding in today's global knowledge economy.
(...) Today and in the future, many of the jobs with the greatest impact will be related to software, whether it is developing software working for a company like Microsoft or helping other organisations use information technology tools to be successful.
(...) Software innovation, like almost every other kind of innovation, requires the ability to collaborate and share ideas with other people (...)
I also place a high value on having a passion for ongoing learning. (...) Having that kind of curiosity about the world helps anyone succeed, no matter what kind of work they decide to pursue.

TED Talks

Indirectamente, já aqui falei das fantásticas TED Talks quando postei um vídeo com uma conversa de Ken Robinson sobre a criatividade.
Mas as TED Talks são uma iniciativa que merece destaque especial. Segundo os próprios:

We believe passionately in the power of ideas to change attitudes, lives and ultimately, the world. So we're building here a clearinghouse that offers free knowledge and inspiration from the world's most inspired thinkers, and also a community of curious souls to engage with ideas and each other.
A conferência anual dá origem a inúmeros vídeos de inegável interesse, uma vez que se reúnem cientistas, pensadores e artistas para falarem (em 18 minutos...) do que vão fazendo nas áreas da Tecnologia, Entretenimento e Design (TED).
No Youtube, há um canal com esses vídeos (são 154 ao todo, nesta data) e são do melhor que se pode encontrar na Internet. A servir de exemplo, deixo a seguir o vídeo da interessantíssima apresentação de Larry Lessing intitulado "How creativity is being strangled by the law", onde se fala da nova cultura da "Remistura" e dos problemas legais associados (pelo meio, alguns momentos de humor negro...):

PISA 2006

O PISA é um estudo internacional sobre os conhecimentos e as competências dos alunos de 15 anos, nomeadamente nas áreas de leitura, matemática e ciências. Os dois primeiros ciclos, realizados em 2000 e 2003, incidiram principalmente sobre as competências de leitura e matemática, respectivamente. Em 2006, cujo relatório foi divulgado há dias, o enfoque foi dado às ciências. Em Portugal o estudo envolveu 173 escolas (sendo 155 públicas e 18 privadas), abrangendo 5.109 alunos com 15 anos, desde o 7.º ao 11.º ano de escolaridade.
Infelizmente, como é habitual, não ficámos bem na fotografia. Ao que parece, os nossos miúdos até revelam elevada auto-confiança nas respectivas capacidades. O problema começa quando têm de demonstrar o que de facto são capazes de fazer... Apesar de algumas melhorias relativamente a anos anteriores, continuamos abaixo da média da OCDE. Há algumas conclusões interessantes: o factor sócio-económico é determinante, os rapazes são ligeiramente melhores do que as raparigas e os alunos com 15 anos que se encontram no 10.º ano (nunca ficaram retidos) têm desempenhos acima da média da OCDE. Como se pode ver no gráfico abaixo, os que estão no 10.º ano até se portam bem, o problema é que temos muitos alunos de 15 anos que já ficaram retidos uma, duas ou mais vezes...


O relatório encontra-se disponível no GAVE, mas pode-se fazer o download directamente aqui (.pdf)

Finalistas dos Edublog Awards 2007

Já se conhecem os finalistas de 2007 dos "Edublog awards". Os américas adoram estas coisas. A verdade é que, no meio de tanto blog, é possível encontrar pedras preciosas.
Lista completa aqui.

Timeline

Já que tanto tenho falado de tempo, não resisto a deixar aqui uma ferramenta que me parece ter evidentes qualidades pedagógicas: CircaVie. Trata-se de um serviço que nos permite criar facilmente um friso cronológico (timeline). O melhor de tudo é que é possível inserir fotos e vídeos nas entradas do friso. Obviamente, o poder educativo de uma ferramenta deste tipo é imenso. Para professores de História e não só...
Vamos fazer um pequeno passeio pelos anos 80? (uma perspectiva americana...)

Avaliação

No Aragem, há quase um mês, o Miguel Pinto colocou um excerto do livro "Avaliação das aprendizagens: Desafios às Teorias, Práticas e Políticas", de Domingos Fernandes, da Texto Editores.
É um texto (e será um livro) que me parece bastante pertinente sobre as práticas e as políticas avaliativas.
A avaliação é uma área (entre tantas outras...) onde há muito a melhorar. Nesse excerto faz-se uma listagem de alguns dos problemas a resolver. Eis alguns:

  • a convicção por parte de muitos professores de que, através dos testes, estão a avaliar aprendizagens profundas;
  • a confusão entre a avaliação formativa e a avaliação certificativa ou sumativa é um problema que parece indiciar que existirão poucas práticas de avaliação genuinamente formativa;
  • a função certificativa e classificativa da avaliação, a atribuição de notas, está claramente sobrevalorizada em detrimento da função destinada a analisar o trabalho dos alunos para identificar necessidades e para melhorar as aprendizagens;
  • a tendência para comparar os alunos entre si, levando-os a crer que um dos propósitos principais da aprendizagem é a competição em vez do crescimento pessoal.
A Isabel Campeão, na caixa de comentários, deixou um texto também interessante oriundo da APM sobre avaliação formativa e avaliação sumativa, onde se pode ler:
A investigação em educação realizada nas últimas décadas tem evidenciado claramente que a avaliação formativa é um poderoso processo de desenvolvimento das aprendizagens dos alunos.
Termino com a última frase do excerto do livro citado, que remete, uma vez mais, para a questão do tempo e que talvez explique por que razão, como acima afirmei, ainda há tanto por fazer nesta área...
Todo o tempo é pouco para que os professores se possam dedicar ao essencial: ajudar os alunos a desenvolver as suas aprendizagens.

Wetpaint - easy Wiki

Desde que o António Granado provocou, tenho andado com a ideia dos Wiki-manuais a ruminar no sótão. Mas todas as plataformas que vou encontrando me desagradam por um motivo ou por outro. Principalmente pelo formato pouco aberto a inserção de código externo, demasiadamente voltado para o texto e com poucas opções de configuração.
Recentemente experimentei o Wetpaint e parece-me que finalmente encontrei uma plataforma Wiki com muitas qualidades (muitos templates, facilidade de navegação, abertura ao exterior, ajuda acessível, fórum, etc.) e poucos defeitos (talvez o maior seja uma definição de privilégios pouco fina...). Tal como o Wikispaces, também o Wetpaint permite que um Wiki com fins educacionais se veja livre de publicidade.
Na Blip.tv encontrei um vídeo das Common Craft Productions precisamente sobre o Wetpaint. Interessante, como sempre:



Nota posterior: pois é, basta escarafunchar um pouco mais e encontramos defeitos. Apesar de muita coisa boa, duas podem limitar bastante o Wetpaint: só é suportado o Inglês (o que para Wikis educacionais é uma limitação severa) e não é possível embeber HTML...
Ora bolas! Será que temos de esperar que o JotSpot apareça finalmente integrado no Google, como ainda hoje li?

Ser livre

Para afastar azedumes, deixo aqui uma frase encontrada no Público de hoje e que é das mais inspiradoras que jamais li:

Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer a minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der.
Carl Gustav Jung

(Ex)citações...

Todos os dias aparece aflitíssima nos jornais uma chusma a clamar a inadiável reforma da administração pública, como se esta fosse a origem de todos os males. A esses, se pudesse, berrava ao ouvido uma frase recente do ministro das finanças (que não encontrei nos mesmos jornais no dia seguinte!...) e que cito de memória:

Se todos pagassem impostos, pagaríamos menos 38% de IRS e menos 25% de IVA.

Os papistas e os papos-secos

Uma verídica sobre a greve de hoje:
Numa escola de Gaia, não havendo condições para fornecer almoços na cantina, o Conselho Executivo informou os alunos que teriam de comer no bufete. Ementa: pães com fiambre.

Quadros Interactivos

Agora que os Quadros Interactivos começam a aparecer com frequência nas salas de aula, aqui ficam duas ligações que poderão ser úteis para quem se está a iniciar na sua utilização:

Já agora, deixo também um slideshow interessante sobre o assunto, da autoria de José Paulo Santos:

Tempo, tempo, tempo

Quase duas semanas depois da última entrada, faz todo o sentido "regressar" com algumas citações colhidas recentemente sobre o tempo - esse bem cada vez mais escasso e sem o qual poderemos ser bons funcionários mas nunca bons professores:

Matias Alves, no
Terrear:

Evidente que o tempo é hoje nas nossas escolas o factor crítico número um. Porque é escassíssimo. Porque se dispende enormemente. Porque muitas vezes é tempo perdido (como aqui também já escrevi, várias vezes). Porque nos afogamos em papéis. Porque estou a deixar de ser aluna e assim não poderei ser professora, numa confissão lancinante de uma professora.
Teresa Martinho Marques, no Tempo de Teia:
Das 8 às mais que 8. Já não chove só do lado de fora. Há uma chuvinha aqui por dentro a marcar o compasso dos dias. Tento sacudi-la. Às vezes não é fácil.
Miguel Pinto, no Correio da Educação:
A intensificação do trabalho docente vai fazendo as suas vítimas, paulatinamente. Sentimentos de culpa, isolamento, ansiedade e frustração, são alguns dos efeitos da mudança que tem sido introduzida, compulsivamente, pela via legislativa no trabalho dos professores.
Acho que em breve seremos confrontados com estatísticas que irão revelar a queda drástica do absentismo dos professores. O que esses números não dirão é da queda drástica da saúde mental dos mesmos. E do empobrecimento da sua acção pedagógica.

P.S.: Segundo o relatório OCDE sobre a educação de 2007, os mexicanos passam o dobro do tempo que nós passamos na escola durante um ano. No entanto, os resultados do seus alunos em provas internacionais ainda são piores do que os nossos...

P.P.S.: Acabo de descobrir que o Matias Alves, ontem mesmo, falou deste assunto. Obrigatório ler.

P.P.P.S. (e último...): a semana passada, um colega confidenciou-me que já ia na sua 28ª reunião desde o início do ano lectivo. Pode haver quem chame a isso "produtividade". Não eu.

10 ideias para melhores aulas

Já há cerca de dois meses tinha falado do Edutopia, a fundação do George Lucas dedicada à educação. Não há dúvida que o Edutopia é mesmo um portal educativo a explorar e seguir com atenção.
Hoje trago dois belos exemplos do que por lá se encontra:

  • Uma listagem de dez ideias que podem transformar as aulas. Excerto:

Students

  1. Engage: Project-Based Learning
  2. Connect: Integrated Studies
  3. Share: Cooperative Learning
  4. Expand: Comprehensive Assessment

Teachers

  1. Coach: Intellectual and Emotional Guide
  2. Learn: Teaching as Apprenticeship

Schools

  1. Adopt: Technology
  2. Reorganize: Resources

Community

  1. Involve: Parents
  2. Include: Community Partners

Nova 5000 - Pai Natal, estás-me a ouvir?...

Quem é professor de Físico-Química não pode deixar de ficar babado ao ter conhecimento da existência do Nova 5000, uma maquininha que faz o dois-em-um: computador pessoal e interface de aquisição de dados experimentais.
Segundo a Fourier Systems, a empresa que o comercializa:

"Nova5000 offers schools a price performing solution for their basic student computing needs, in the classroom, in the lab, at home and for outdoor activities by combining powerful computing performance with patent pending data logging functionality.

National Science Foundation research demonstrates that probeware functionality can substantially improve student achievement in mathematics and science. The Nova5000 is the perfect device for 1:1 initiatives, science classrooms and general student computing."

Para se ter uma melhor percepção da coisa o melhor é visitar o product tour.

Atenção, Conselho Executivo da minha escola: vai uma prendinha de natal para o grupo disciplinar de Físico-Química?... :-)

Um debate americano sobre educação

Já aqui falei do projecto Fora.tv e do enorme acervo de vídeos que por lá podemos encontrar sobre conferências, colóquios, apresentações, debates, etc.
O vídeo abaixo é longo (2 horas...) mas parece-me bastante interessante. Fala-se dos desafios da educação americana para os próximos anos.
Uma das vantagens dos vídeos do Fora.tv é o facto de se poder saltar para um ponto específico do debate - basta clicar em "Open Tools" (quanto inferior esquerdo) e escolher o tópico. Por exemplo, aos 22 minutos do debate, é feita uma citação em que se afirma que "a escola foi a única instituição social que atravessou o século XX inalterada"... Por volta dos 44 minutos, fala-se de aprendizagem baseada em projectos...

Future Lab

FutureLab is passionate about transforming the way people learn. Tapping into the huge potential offered by digital and other technologies, we develop innovative resources and practices that support new approaches to learning for the 21st century.

(Ex)citações da matéria

You cannot teach a man anything; you can only help him find it within himself.
Galileu

Soap and education are not as sudden as a massacre but they are more deadly in the long run.
Mark Twain


It is a miracle that curiosity survives formal education.

Albert
Einstein

No walls, no classes, no teachers, no bells...

Ainda me estou a rir.
Nem há dois dias aqui coloquei o texto que enviei para o Correio da Educação, armado em provocador, dizendo que dentro de dez anos as boas escolas não terão "aulas", nem "disciplinas", e que os professores serão em reduzido número... E hoje, através da KnowledgeWorks Foundation, de que já falei, encontro um artigo na National Public Radio que tem o desplante de me informar que o meu calendário está DEZ anos atrasado!
O melhor é ler o artigo todo. Entretanto, fica aqui um cheirinho:

  • No classes. Students work on projects they select themselves. Projects are tailored to fulfill state curriculum requirements.
  • No teachers. Students consult with "advisers" who are available through the day to guide their work. Advisers do not "teach" in the traditional sense. They guide students' work.
  • No hierarchy. The school is run like an agricultural cooperative. Advisers are owners, rather than employees. There is no principal.
  • No bells, no firm schedule. Time is set aside for lunch and for quiet reading. Other than that, students choose how to spend their time. If they fall behind, advisers help them get back on track.
  • No walls. Students work in an open environment and can confer with other students and advisers as needed. There's no central office.
  • And no janitors. Students clean the bathrooms and the rest of the school themselves.

DIKW

Where is the Life we have lost in living?
Where is the wisdom we have lost in knowledge?
Where is the knowledge we have lost in information?

T. S. Eliot (1888-1965), The Rock (1934)

[Retirado de Leader Talk]

Do Futuro - Matéria Escura

Desafiado pelo Matias Alves (do Terrear) a escrever um texto para o Correio da Educação sobre a os quotidianos escolares, andei vários dias à procura de palavras de esperança, de territórios felizes, de um olhar luminoso através das negras nuvens. E não me saiu nada. Não me saiu nada que pudesse ser "publicado".
Nos últimos tempos olho em volta e vejo tanto cansaço, tanta desesperança, que as palavras resultam sempre pobres e amarguradas. Decidi então que falaria de questões concretas: a revolução digital que se inicia nas escolas e os desafios do futuro. Pretendia uma coisa em jeito de provocação, que desassossegasse.
No entanto, quando os nossos olhos estão turvados é impossível vislumbrar a claridade. Afinal de contas, nunca falamos se não de nós mesmos... Como se pode aferir no texto que acabei por enviar e que se encontra no Correio da Educação de 5 de Novembro. Já agora, reproduzo o texto aqui (com ligeiras alterações):

O jogo acabou de começar e é já um jogo perdido.

Nos próximos dez anos a educação vai sofrer alterações mais profundas do que nos últimos séculos conjuntamente considerados.

Vejamos: o que (ainda) é uma sala de aula? Um professor, vinte e tal alunos, um quadro e giz. O que será uma sala de aula de uma (boa) escola daqui a dez anos? Nada. De outro modo: o conceito de "sala de aula" perderá propriedade. Haverá salas, alunos e (poucos) professores. Mas não "salas de aula". Em boa verdade não haverá "aulas". O conceito de "aula" coloca o professor no centro. E o centro vai definitivamente deslocar-se para o aluno. (Pois, eu sei, isto é a conversa estafada do construtivismo que não deu em nada. Mas não deu em nada porque ainda não dispunha das ferramentas necessárias. Do mesmo modo que a globalização não deu em nada até terem chegado os barcos, os aviões, os satélites, as televisões...).

As ferramentas da revolução estão agora a chegar às escolas. Chamam-se computadores pessoais. Ao longo dos últimos anos, sempre que se fala da entrada dos computadores na escola, logo alguém se apressa a sossegar os espíritos: "Mas os professores serão sempre necessários!". Mentira piedosa. O número de professores necessários será claramente menor. Arrisquemos: metade. Parece-me, por exemplo, que ao longo dos primeiros nove anos de escolaridade um só professor será suficiente para uma turma de vinte alunos. Os computadores vão transformar radicalmente a escola: os lugares, os tempos, os agentes, o currículo. Por exemplo: deixará de existir "disciplinas". Serão substituídas por "actividades" e "projectos". Já hoje, há disciplinas que não têm razão de existir: são meramente descritivas, pouco mais do que catálogos de conhecimentos. Não exigem a presença de um professor. Exemplos há muitos. Qualquer adolescente minimamente autónomo que saiba ler, pesquisar, seleccionar, compilar e tratar informação, possui as competências bastantes para apreender conteúdos de Geografia, História, Ciências e Inglês. E até muita Matemática. E até algum Português. O professor passará a desempenhar um papel fundamental apenas nas vertentes intrinsecamente humanas: atitudes e valores.

Voltemos ao início: afirmei que este é já um jogo perdido. Com efeito, o sistema educativo português reúne todas as condições para perder a batalha da "sociedade da informação". Os professores, provavelmente mais do que em qualquer outra época, encontram-se profissionalmente deprimidos. Os últimos anos foram extremamente penalizadores. Além dos domínios simbólico (estatuto social) e substantivo (carreiras e remunerações), as efectivas condições de trabalho agravaram-se. A sobrecarga horária a que foram sujeitos, numa deriva "proletarizante", veio roubar-lhes os recursos fundamentais para aderirem à mudança: a energia renovadora, o entusiasmo mobilizante, a reflexão fecunda. O computador é uma ferramenta delicada e exigente — exige paciência, persistência, prática, ou seja, o que cada vez menos os professores têm: tempo. Além disso, o aumento da idade da reforma vai manter no sistema, mais tempo do que seria desejável, muitas das pessoas a quem a revolução digital, iniciada há quinze anos, passou ao lado.

Recentemente, fomos informados de que nos próximos tempos as escolas serão "bombardeadas" com equipamento informático. Boas intenções. Mas já estou a imaginar muito hardware desaproveitado enquanto, esmagados, os professores se afadigam a dar resposta ao monstruoso monumento formal em que a vida escolar se transformou nos últimos anos: planificações, articulações, reuniões, planos de recuperação, actas, grelhas de avaliação, mais reuniões... A lógica jurídica entrou no sistema de ensino e está a matá-lo. Em vez de terem uma atitude criativa, desbravando novos caminhos, os professores defendem-se dos encarregados de educação, defendem-se das inspecções, defendem-se de toda uma sociedade que lhes aponta o dedo quando se sabe os resultados dos exames. Tudo minuciosamente explicitado, cada decisão detalhadamente justificada. Neste clima, não há uma verdadeira disponibilidade para fazer o necessário: aproveitar a chegada da nova ferramenta e repensar de cima a baixo os modos de trabalho escolar. Essa é uma tarefa colossal, extremamente desgastante. Os países do primeiro mundo já a iniciaram. Nós vamos perder mais uma oportunidade.

Como é óbvio, o que mais desejo é estar redondamente enganado.

Classroom of the Future Is Virtually Anywhere

"Welcome to the brave burgeoning world of online education. It’s a world most of us, whether we like it or not, will have to grapple with, as students, tuition-paying parents or employees. Nearly 3.5 million college or graduate students, one of every five, took at least one online course last fall, double the figures of five years earlier.(...)

Online courses may not be suited to subjects like laboratory science or theater, but can work fine for the nut-and-bolts information and analysis required in a history survey or for the editing needed for a basic writing course."
Um artigo interessante no New York Times.

Laptops are 21st Century Pencils

"Portable, wireless, laptop computers will be the pencils of the 21st century classroom. In classrooms engaged in 1 to 1 laptop learning initiatives now, this is already true. According to PEW Internet and American Life Project research, the Internet is already the place most students (who have access to it) choose to go first for information they need both at school and at home."
Ler o artigo completo no TeachLearning Blog

Can online learning be as effective as classroom learning?

O Edutopia, já aqui referenciado, colocou há alguns dias um inquérito online em que a pergunta é a seguinte: "Can online learning be as effective as classroom learning?"
Além das três hipóteses óbvias de resposta - Sim, Não e Talvez - permite-se que o respondente escolha "nenhumas das anteriores" e diga porquê na zona dos comentários. Eis alguns excertos desses comentários:

"The industrial model of education is on it's way out. It never did server learners need but was designed more for the convenience of the providers at the time. Now we can do better with technology and support true learning."

"Younger students definitely need that face-to-face interaction to not only learn materials from content areas, but also how to interact appropriately with other people."

"It is impossible to replace in-person interaction and experience. Learning online is valuable, but is not a complete substitute. I want my kids to learn how to be together and interact with people individually and in groups, real, live, and naturally, as well as in online scenarios."

"Now, as I complete my doctoral degree in educational leadership through an online program, I am more convinced than ever that online learning can be effective, challenging and greatly rewarding."

"Online learning opens many doors for some learners. They can be engaged and learning 24/7. This is great if the technolgy is working and the student is self motivated or engaged."

"While the convenience and offerings that online classes can provide could not possibly be matched in a conventional classroom, the social interaction with your fellow students and the instructor can be invaluable and (I believe) essential for some topics."

Metodologia ou Tecnologia?

É interessante o vídeo abaixo uma vez que mostra que a tecnologia, por si só, de pouco servirá se não alterar também as metodologias de ensino-aprendizagem. O que faz todo sentido neste momento em que as nossas escolas estão a receber "Quadros Interactivos".
O que fazer com eles?
Pessoalmente, estou convencido que, apesar das suas inegáveis virtudes, não é o Quadro Interactivo que vai revolucionar as metodologias. Aliás, se mal utilizado, pode mesmo representar um retrocesso, fazendo com que uma aula adquira um carácter ainda mais expositivo.
A verdadeira ferramenta da "revolução metodológica" é o computador pessoal. Uma pessoa - um computador.


[Vídeo retirado do YouTube. Utilizador ementa (?)]

K-12 Online Conference

Acabou ontem... mas está lá tudo. A K12 Online Conference decorreu na segunda quinzena de Outubro.
O objectivo foi recolher as melhores ideias de como utilizar as tecnologias e ferramentas Web 2.0 para melhorar as aprendizagens.
Cerca de quarenta apresentações sobre os mais variados temas - desde o blogging ao podcasting, passando pelo modo como tirar proveito dos telemóveis em contexto educativo...
Todas as apresentações podem ser acedidas a partir do site K12OnlineConference.

Um dos participantes foi Konrad Glogowski, o autor do conhecido "blog of proximal development", que em 2005 foi o vencedor dos edublogs awards. Este professor canadiano, da Universidade de Toronto, trouxe como tema "Assessment and evaluation in the age of networked learning", uma apresentação que pode ser revista com o auxílio do slidecast abaixo:

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Map of Future Forces Affecting Education

A partir do Ponto Media, cheguei a este mapa INTERESSANTÍSSIMO (formal e substantivamente falando) onde podemos ter um vislumbre do que aí vem em termos de educação.
Particularmente útil para quem ainda não percebeu que o futuro próximo vai ser radicalmente diferente do presente - para a educação e não só!
Estou pessoalmente convencido que, em apenas dez anos, as mudanças na educação serão maiores do que no último século. E quem achar que esta afirmação é ingénua - faça favor.

A substância das palavras

Num PowerPoint, de uma respeitável editora, encontro a seguinte definição:

Numa solução temos a considerar o soluto e o solvente:
O soluto é a substância que se dissolve no solvente.
O solvente é a substância na qual se dissolve o soluto.
Isto é aquilo a que na Filosofia se chama uma "definição circular". Obviamente, uma definição circular é um "círculo definidor"... ;-)
Depois queixem-se que a Química é difícil.
Já agora: durante o meu curso (de Química) fartei-me de apanhar situações destas. Ainda se encontram muitos conceitos definidos com muito pouco rigor e uma linguagem pouco clara. A malta da Filosofia é que podia dar uma ajudinha...
Mas a definição que me enche as medidas encontrei-a na disciplina de Psicologia dos Adolescentes: "os adolescentes podem ser encontrados em grupos de pares, havendo que distinguir os Grupos e os Grupinhos. Os Grupinhos são Grupos pequeninos..."
Juro que li isto numa sebenta de Psicologia!

e-learning Lisboa 2007

Começa amanhã, no Centro de Congressos, o e-learning Lisboa 2007.
Segundo a mensagem da Comissão Executiva, "o propósito desta nossa Conferência é o de proporcionar oportunidade para reflectirmos conjuntamente, com base nas experiências e vivências de cada um e com o apoio de especialistas, sobre a qualidade dos processos educativos/formativos, à luz dos objectivos da Agenda de Lisboa e num contexto favorecedor da apreciação critica e de uma construção prospectiva."
A conferência pode ser acompanhada em tempo real através da Net.
Além disso, os participantes irão ter a possibilidade assistir a uma sessão da Rede Kaleidoscope, que se define como sendo "a European research network actively shaping the scientific evolution of technology enhanced learning." O seminário da próxima terça-feira terá como tema: Are we re-searching the right things? Na introdução do mesmo pode ler-se:

Mobile learning, social software, learning grids, collaborative learning environments, inquiry learning: these are some of the current key strands of research on Technologies and Education. What do they mean for school representatives? Research questions and results predominantly see the light in academic circles, with still a limited involvement of their intended beneficiaries: schoolteachers, parents’ associations and other stakeholders of the school sector. Furthermore, research results are not easily transferred into school practices. The purpose of this session is to invite school practitioners to express their views, concerns and expectations on what the research priorities should be, and how they could be involved in their definition. We’ll try to highlight challenges and opportunities to involve school practitioners in the definition of the research agenda and for the transfer of research results into mainstream school practices.

Poesia portuguesa

No aplicativo abaixo é possível que qualquer pessoa grave a sua leitura de um poema de um dos poetas seleccionados.
Trata-se apenas de uma experiência. Mas que pode dar uma ideia das potencialidades pedagógicas de ferramentas deste género.
Nota: Para ouvir as leituras é necessário altifalantes ou auscultadores. Antes de gravar ou escrever, é necessário fazer um registo que é simples e rápido.

??!!

«Dois polícias "à civil" entraram ontem na sede do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) na Covilhã e levaram dois documentos de informação referentes à acção de protesto marcada para hoje nesta cidade, onde estará o primeiro-ministro, no âmbito de uma visita à Escola Secundária Frei Heitor Pinto.
De acordo com o relato feito por responsáveis do sindicato, os dois agentes entraram na sede do SPRC numa altura em não se encontrava nenhum dirigente e informaram o único funcionário presente que se tratava de uma acção de "rotina". Para a direcção do SPRC, filiado na Fenprof, trata-se de uma "acção de características pidescas" e que justifica a apresentação de queixa sobre "esta violação dos direitos democráticos" ao Presidente da República, Parlamento, Provedoria de Justiça e Procuradoria-Geral da República, lê-se num comunicado emitido ontem ao final do dia.»
Público, 9 de Outubo de 2007

Revista "Sísifo"

O número 3 da Revista Sísifo - Revista de Ciências da Educação, da Unidade de I&D de Ciências de Educação da Universidade de Lisboa - tem como tema global "TIC e Inovação Curricular".
Os artigos estão disponíveis para consulta online e abordam temáticas de interesse relevante para quem se interessa pela integração das novas tecnologias em ambientes de ensino-aprendizagem.
A propósito da minha entrada anterior, aproveito para deixar aqui um pequeno excerto do artigo "Limites e possibilidades das TIC na educação" [.pdf], de Guilhermina Lobato Miranda:

A investigação tem demonstrado que a estratégia de acrescentar a tecnologia às actividades já existentes na escola e nas salas de aula, sem nada alterar nas práticas habituais de ensinar, não produz bons resultados na aprendizagem dos estudantes (cf. De Corte, 1993; Jonassen, 1996; Thompson, Simonson & Hargrave, 1996, entre outros). Esta tem sido, contudo, uma das estratégias mais usadas. E compreende-se porquê. Existem várias razões. Enunciarei as duas que considero mais importantes.
A primeira prende-se com a falta proficiência que a maioria dos professores manifesta no uso das tecnologias, mormente as computacionais. Vários estudos têm revelado que a maioria dos professores considera que os dois principais obstáculos ao uso das tecnologias nas práticas pedagógicas são a falta de recursos e de formação (cf. Paiva, 2002; Pelgrum, 2001; Silva, 2003; entre outros).
A segunda razão prende-se com o facto da integração inovadora das tecnologias exigir um esforço de reflexão e de modificação de concepções e práticas de ensino, que grande parte dos professores não está disponível para fazer. Alterar estes aspectos não é tarefa fácil, pois é necessário esforço, persistência e empenhamento.
O problema reside em que alguns professores têm uma concepção romântica sobre os processos
que determinam a aprendizagem e a construção de conhecimento e concomitantemente do uso das tecnologias no acto de ensinar e aprender. Pensam que é suficiente colocar os computadores com algum software ligados à Internet nas salas de aula que os alunos vão aprender e as práticas se vão alterar. Sabemos que não é assim.

O camião

Hoje estou numa de metáforas:

Uma família humilde de agricultores tinha de percorrer muitos quilómetros, todos os dias, para levar os seus produtos à feira. Transportava os bens numa carroça de madeira, demasiado gasta, puxada por um burro cansado. Os membros desta família, conhecidos por toda a região e tidos como gente honesta e trabalhadora, andavam sempre exaustos, tal a dificuldade da tarefa que diariamente lhes cabia em sorte.
Um dia, um homem bom, que deles se compadeceu, num "gesto largo, transbordante" (à moda do Álvaro de Campos...), deixou de surpresa em frente de casa, para os surpreender, um camião novinho em folha.
Quando, passados muitos meses, depois de viajar pelo mundo, o homem bom quis ver como passava agora aquela família humilde de quem se apiedara, verificou espantado que pais e filhos estavam ainda mais cansados, tristes e desesperados do que antes. Querendo saber o porquê de tal situação, deles se aproximou sem nunca revelar que tinha sido ele o benemérito. O filho do meio foi quem tudo explicou: o burro, que já era velho, quase não conseguia puxar o camião, muito mais pesado que a antiga carroça, e tinham de ser os filhos a ajudar o burro, com cordas e muito suor. Perplexo, o homem bom fez a pergunta óbvia: por que não conduziam eles o camião? Ao que o mais velho respondeu, resignado, que aquele camião era muito difícil de conduzir: além de três pedais e um volante, havia uma série de alavancas e botões complicados - era mais simples continuar a utilizar o burro...
Peço desculpa pela estória canhestra, de tom anacrónico e pouco verosímil, mas foi o que pude arranjar. Perguntar-me-ão a que propósito a coloquei aqui.
Sem querer ferir susceptibilidades, nem armar ao iluminado, sempre direi que todos os dias, à minha volta, me vejo rodeado de pessoas com uma atitude semelhante aos infelizes membros da família acima: possuem ferramentas poderosíssimas, com as quais poderiam fazer muito mais facilmente e de modo mais eficaz o que sempre fizeram - gerir informação, planear actividades, comunicar com os outros, elaborar documentos, estruturar projectos, etc, etc, etc... - com a enorme vantagem de tudo ser feito colaborativamente, sem repetições desnecessárias e dando expressão à criatividade individual.
Mas não é fácil convencer os professores que um computador serve para muito mais do que fazer testes ou planificações e que há muito mais vida além do Word...
Quando vejo tanto computador "generosamente" oferecido, penso se não seria preferível oferecer apenas... cartas de condução.

Ser Professor

Ando há meses a resistir. Não aguento mais. O Helder Bastos que me desculpe mas vou mesmo roubar a frase que colocou no frontispício do seu Travessias. É que não consigo encontrar melhor frase para descrever a função de um Professor:

"Despertar noutro ser humano poderes e sonhos além dos seus; induzir nos outros um amor por aquilo que amamos; fazer do seu presente interior o seu futuro: eis uma tripla aventura como nenhuma outra."
George Steiner

E as crianças, senhores?

No Público de sábado, dia 29 de Setembro, sob o título "E a criança, senhores?", a sempre muito lúcida e pertinente São José Almeida afirma, a propósito do caso "Esmeralda", menina de cinco anos envolvida numa disputa de custódias, que "parece ser dado como adquirido que, em Portugal, o interesse da criança é uma prioridade garantida pela lei." Mais abaixo, interroga-se: "Que país é este em que se cria uma histeria quase generalizada à volta do desaparecimento de uma criança, mas em que é possível que uma outra criança esteja até aos cinco anos de idade à espera de saber a quem vai, de facto, poder olhar como referência de enquadramento social?"
Com efeito, parece que vivemos num país em que o discurso sobre a infância e a prática quotidiana estão em clara dissonância. Ao mesmo tempo que os fundamentalismos sobem de tom sempre que uma criança é vítima de algum tipo de violência - naquilo que, por vezes, cheira a má-consciência - permitimos que as nossas criança convivam diariamente com situações verdadeiramente indignas. Outro tipo de violências - mas violências, ainda assim. Ao dizer isto refiro-me ao estado deplorável em que se encontra boa parte do parque escolar do 1.º Ciclo. Se dúvidas houvesse, o arranque deste ano lectivo veio provar que o 1.º Ciclo é o "parente pobre" do ensino em Portugal. Além das dezenas de acções de protesto de populares, um pouco por todo o lado, um estudo da Deco veio provar o que já (quase) todos sabíamos. (acrescento o "quase" porque, pelos vistos, ainda há quem não viva neste mundo e tivesse mesmo afirmado que "a Deco se anda a promover à custa da educação", o que constitui uma das tiradas mais cómicas do ano...).
Pessoalmente, como pai de uma criança que este ano iniciou a sua caminhada escolar numa escola pública, não estava preparado para tanta escassez, tantos problemas. Nem consegui sorrir quando me pediram cinco euros para comprar... papel higiénico. Não sei de quem será a culpa do estado de coisas. Mas parece-me que a encruzilhada de competências em que vive este ciclo de ensino não lhe é nada favorável. Nem sequer creio que o actual executivo tenha grandes responsabilidades no assunto. Em dois anos não se pode remediar o que se arrasta há tanto tempo. Porém, não consigo deixar de pensar na imensa hipocrisia dos discursos sobre os "direitos da criança" quando todos os dias permitimos que os nossos filhos passem tantas horas em ambientes degradados - como aquele caixote com cerca de 20 metros quadrados, a que eufemisticamente chamamos contentor, em que, amargurado, deixei o meu filho no primeiro dia de aulas. Ironicamente, nesse mesmo dia, fui informado que, na sala onde lecciono a maioria das minhas aulas, iria em breve ser instalado um fantástico quadro interactivo. Fiquei contente. Maravilhoso mundo novo. Bendito plano tecnológico.
(No entanto, devo confessar, ainda não consegui deixar de pensar que o meu filho vai passar sete horas por dia metido num caixote com 20 metros quadrados... Mas hei-de habituar-me à ideia. A gente habitua-se a tudo, não é verdade?)

Correio da Educação

O "Correio da Educação" é uma publicação pela qual o autor deste blogue nutre um carinho especial uma vez que, há cerca de oito anos, colaborou no seu nascimento. O ano e meio em que tive o privilégio de trabalhar com o Matias Alves foram pessoal e profissionalmente muito enriquecedores. Na altura, o CE era uma pequena brochura, com apenas quatro páginas A4, que todas as semanas ia ao encontro de cerca de três mil assinantes. Hoje é um boletim electrónico e continua atento ao mundo da educação em todas as suas vertentes. Os textos do seu director são sempre inspiradores e motivo suficiente para uma visita regular. Para mim, muitas vezes, funcionam como balões de oxigénio quando o ânimo e a crença na tarefa docente andam por baixo. Ou a escrita do Matias não fosse, como aparece no seu Terrear, dedicada "a quem ainda não desistiu de inventar dias mais claros".

Nota: O Matéria Dada é um blogue que, nos curtos intervalos da "vida a sério", vou mantendo tão despretensiosamente que nunca o publicitei senão a dois ou três amigos. Foi pois com espanto que deparei com a referência ao mesmo no número 307, de 1 de Outubro, do CE. Agradeço o destaque, embora desconfie não estar à altura da "pressão" de muitos olhares. O melhor talvez seja continuar como até aqui: descontraidamente, deixando que a "matéria" se transforme em luz.

Relatório OCDE sobre Educação - 2007

No relatório de 2007 da OCDE sobre a educação é possível confirmar algumas afirmações recentes de responsáveis políticos, mas também se desmontam alguns mitos.
Por exemplo: os professores em final de carreira ganham relativamente bem; o tempo despendido na escola pelos professores é relativamente baixo (como os dados se reportam ao ano de 2005, pode afirmar-se que, ironicamente, o escasso tempo passado na escola se deve principalmente aos que ganham "relativamente bem", por via das reduções horárias...). Mas há um mito que parece cair por terra neste relatório: os gastos globais com a educação não-superior em Portugal estão abaixo da média da OCDE.
Em suma: parece que os professores no início e meio de carreira terão de pagar a factura do "forrobodó" que imperou durante muitos anos nas escolas portuguesas...
Quer-me parecer que esta lógica se pode estender a todo o país: os que têm menos de - digamos - 50 anos vão pagar fortemente o luxuoso banquete que os seus pais encomendaram nos anos 80 e 90.

A factura virá depois

Notou-se no debate [Prós e Contras, sobre educação] uma ausência de realidade. É evidente que ninguém conhece toda a realidade e não há evidências empíricas que se possam universalizar. Mas tenho para mim que o Ministério conhece a realidade pelo que lhe reportam as estruturas regionais e os papéis que recebe. E o mapa cor-de-rosa que possui pode estar bastante longe de muitos dos contextos reais. A profissão docente é hoje (de forma tendencial) muito mais penalizadora, muito mais intensa, complexa e mais destrutiva, muito mais 'mortal'. E a prazo alguém vai pagar a factura. É certo que "as coisas" vão funcionando, vão "avançando".... mas muito na lógica do "faz-de-conta" e da aparência. Porque no fundo, no fundo só uma política inspirada na implicação, no apoio, no fazer gerar vontades, na celebração autêntica e verdadeira pode gerar resultados duradouros...
Matias Alves, terrear
A factura será paga dentro de poucos anos - quando as escolas tiverem um corpo docente envelhecido, cansado, descrente, injustiçado, vigiado ao mais ínfimo pormenor e que não se sente reconhecido. Em suma - "morto". Para mim, há uma verdade límpida: um professor não é um fabricante de sapatos, o entusiasmo que coloca naquilo que faz é um factor essencial para a qualidade dos seus resultados.

Learning 2.0 Conference

Vai começar amanhã e decorre até dia 16, na cidade chinesa de Shanghai , a Learning 2.0 Conference sob o tema "Communication, Collaboration, Connection". No sítio da Web dedicado à mesma, pode ler-se:

Doing “school” is changing more rapidly all the time. Technology is certainly one factor in these changes in education, the workplace, and life in general. As a result of innovations that we have all observed, students are more visually orientated and are considered digital natives to a growing degree. Educators see the implications of this and a need to re-define good teaching in response to this more dynamic environment. All agree that we must all expand our teaching/coaching/collaboration skills. Come join the search as we together build the future of schools.
O slide show abaixo pode dar uma ideia do que por lá se falará...


Edutopia

O conhecido produtor de cinema George Lucas também tem a sua faceta filantrópica e, em 1991, criou a Edutopia , uma fundação para promover a inovação escolar, que no seu sítio se apresenta do seguinte modo:

The George Lucas Educational Foundation (GLEF) was founded in 1991 as a nonprofit operating foundation to celebrate and encourage innovation in schools. Since that time, we have been documenting, disseminating, and advocating for exemplary programs in K-12 public schools to help these practices spread nationwide.
We publish the stories of innovative teaching and learning through a variety of media -- a magazine, e-newsletters, DVDs, books, and this Web site. Here, you'll find detailed articles, in-depth case studies, research summaries, short documentary segments, expert interviews, and links to hundreds of relevant resources. You'll also be able to participate as a member of an online community of people actively working to reinvent schools for the twenty-first century.
O sítio da Edutopia tem muitos recursos para quem se interessa pelo cruzamento da educação e da tecnologia. Veja-se, como exemplo, o slideshow intitulado Technology Integration in Science.

(Onde se pode ler nos comentários de um dos slides:
In the most stimulating classrooms, teachers have changed their role from one of absolute and only authority to a shared experience in which teachers are learners as well. And since students often know more about the new technology tools than adults, allowing them to teach their teachers as well as their peers provides a powerful model of lifelong learning.
Gosto desta frase porque me remete para a melhor definição que conheço de "sala de aula" - comunidade aprendente. E, se isto soar demasiado "eduquês" a algumas almas mais cartesianas, só posso lamentar...)

O Mundo não é um Brinquedo

Muito interessante este texto do Phillippe Meirieu que se pode encontrar no Terrar. Devia ser de leitura obrigatória para muitos pais que insistem em escolher "a dedo" a escola e a turma dos seus filhos, impedindo-os, desse modo, de crescer. Excertos:

A escola, precisamente, tem como missão ensinar à criança que a família, eminentemente necessária para o seu desenvolvimento, não é – não pode ser – o seu único universo de referência.
É, com feito, na escola que descobrimos que outros meninos vivem de forma diferente. Que aprendemos que os pais não reagem todos da mesma maneira. Que as sanções e as recompensas não são as mesmas. Que não se crê, em todo o lado, nos mesmos deuses. Que as preocupações de uns não são as mesmas de outros. E que as opiniões de uns não são os pontos de vista de todos.
O que, na realidade, caracteriza a turma na escola da República é que os seus membros não se escolhem e o seu encontro é aleatório. Podemos ter ao lado amigos, grupos de pertença, convicções, simpatias… Mas nada disto deve ser um critério de constituição de uma turma. Pois vamos à escola para aprender em conjunto… aprender sem sermos escolhidos!
(...) É uma empresa difícil libertarmo-nos, assim, do círculo da família. Uma história que começa no dia do primeiro dia de aulas… e que continuará por muito tempo, para lá da “escolinha”.

Doutor(and)ices

Em documentos de uma doutoranda sobre critérios de avaliação, apanhei as seguintes frases:

"Correcta aplicação no domínio da língua materna."
"Aspecto estético e qualidade técnica."
Não digo mais nada hoje. Vou triste para a cama. Só espero fazer uma "correcta aplicação no domínio do sono" e, amanhã de manhã, acordar com um "aspecto estético" aceitável...
Boa noite.

Plano Tecnológico para a Educação

Podcast: a Web 2.0 e o impacto que pode ter na educação

Basta clicar no triângulo azul para ouvir o podcast (que é apenas um ficheiro em .mp3) - ou descarregá-lo e ouvir num leitor de mp3 (por que não?...)

Students are increasingly becoming familiar with using social networking and other interactive web services such as Facebook, MySpace, Flickr and YouTube. This phenomenon has important implications for educational institutions as students increasingly expect such services - or at least aspects of such services - to be mirrored in the delivery of courses.

In this podcast, JISC's Lawrie Phipps and Dave White from the University of Oxford speak about the impact such technologies - commonly gathered under the umbrella term 'Web 2.0' - are having on education and research and how institutions can harness them meaningfully and effectively in support of their students.

[Retirado de Joint Information Systems Committee (JISC)]

Avaliar, avaliar, avaliar

Só mais uma sobre o último número da Página da Educação:

A avaliação pode ser um poderoso meio de melhoria generalizada das práticas escolares e, consequentemente, das aprendizagens dos alunos. O problema é considerar-se que qualquer avaliação é, em si mesma, uma coisa boa, sem cuidar de perceber que ela não substitui o árduo e difícil trabalho pedagógico dos professores nem os esforços dos alunos para vencer problemas de aprendizagem. É preciso compreender que a avaliação, por si só, não resolve problema rigorosamente nenhum! Uma boa avaliação ajuda-nos a compreender melhor uma dada realidade e pode contribuir para a melhorar e para a transformar. Mas teremos sempre que reconhecer os seus limites e perceber a relevância da utilização que fazemos dos seus resultados. Receio que a avaliação se banalize no pior sentido e se transforme num mero procedimento de controlo burocrático-administrativo, em vez de um poderoso e exigente processo de regulação e de melhoria. E também receio que a avaliação e os avaliadores se tornem numa espécie de juízes, acima de qualquer suspeita e de qualquer escrutínio… Sem quaisquer limites.
Domingos Fernandes; Jornal "a Página" , ano 16, nº 170, Agosto/Setembro 2007, p. 35.

Desigualdade digital

Ainda a propósito do último número da Página da Educação a que se fez referência no post anterior, registe-se o breve artigo de José da Silva Ribeiro - Tecnologias digitais para a inclusão social - que nos fala da ênfase que se deve atribuir, já não à exclusão digital, mas à "desigualdade digital" [sublinhados meus]:

Investigadores e estudiosos da Internet como DiMaggio e Hargitai propõem que, na era da grande massificação da Internet e das tecnologias digitais, a focalização desta questão se mova da exclusão digital para a desigualdade digital. A desigualdade para estes autores abrange cinco variáveis principais:
a) meios técnicos – desigualdades relacionada com o acesso à banda larga,
b) autonomia – conexão no trabalho ou em casa, monitorizado ou não, tempo limitado ou livre, etc.
c) conhecimento, habilidade e competências - como pesquisar, baixar e utilizar informação ou a utilização dos artefactos digitais actualmente disponíveis,
d) apoio social – orientação ou aconselhamento por usuários mais experientes,
e) intenção – razões da utilização da Internet e das tecnologias digitais: aumento da produtividade, melhoria do capital social, consumo, entretenimento, aprendizagem, etc..

Página da Educação

A Página da Educação de Agosto/Setembro, que se pode consultar gratuitamente na Net (aqui em .pdf ou aqui em .html), parece ser um número que vale bem a pena. Deixo aqui apenas os títulos de primeira página:


  • Que iremos fazer com aquilo que nos deixam ser? Que mudanças e mentiras podem os professores aceitar? Impasses e desafios na profissão docente.

  • Digital - a revolução que gera excluídos.

  • Avaliar e examinar é o que está a dar.

  • "A escola já não ensina e perdeu espaço para educar". (entrevista com o psiquiatra Manuel Freitas Gomes).

Mais autonomia, s.f.f.

Com a devida vénia ao Matias Alves, do Terrear, transcrevo na íntegra o post "O poder das periferías e dos actores":

Sabe-se, com uma elevada dose de certeza, que são as escolas (os contextos específicos e as pessoas na acção organizada) que comandam o ritmo, o sentido, a geografia e gramática das mudanças. Que são as periferias que controlam o centro (político e administrativo). Que são os actores que reformam as reformas iluminadas centralmente concebidas e mandadas aplicar em todos os contextos.
Sabe-se que a Inspecção tem poucas condições para inspeccionar o que realmente importa. Que a Administração central e regional apenas detém um poder meramente formal e que se alimenta da ilusão de que os relatórios são o espelho do real.
Vivemos num imenso simulacro governado pela lógica do sistema (sem rosto, maquinal, burocrático, insensível). A principal causa do nosso atraso. E o grave é que quase ninguém vê. Desenham-se políticas e impõem-se regulamentos próprios do século passado. Passados. Inertes.
Apenas acrescentaria que, quando a realidade é esta (e é!), o melhor a fazer não é tentar controlar o que não se pode controlar - o melhor é confiar nos agentes (nos actores) e proporcionar-lhes uma efectiva autonomia.
Uma política do século passado é uma política que desconfia da capacidade dos cidadãos em resolver os seus problemas e acha que pode intervir no chão do quotidiano a partir das nuvens...

Hábitos online dos jovens

Mais uma vez, a partir do sempre exemplar Ponto Media, o António Granado aponta um estudo feito nos States sobre como é que os jovens estão a utilizar a Internet [documento em .pdf]. Não é de estranhar que, em frente do computador, a malta é muito menos passiva do que diante da TV, como se pode ler neste extracto da introdução:

Nine- to 17-year-olds report spending almost as much time using social networking services and Web sites as they spend watching television. Among teens, that amounts to about 9 hours a week on social networking activities, compared to about 10 hours a week watching TV.
Students are hardly passive couch potatoes online. Beyond basic communications, many students engage in highly creative activities on social networking sites — and a sizeable proportion of them are adventurous nonconformists who set the pace for their peers.

"Livros escolares em wiki"

Mais uma vez os manuais escolares: no seu Ponto Media, António Granado afirma:

"Quem é que em Portugal está a apostar nesta área dos recursos educativos gratuitos (livros escolares em wiki, páginas de exercícios de acesso livre, etc…)? Estou muito interessado em ter alguns contactos"

Sinto estas palavras como um desafio. Sei, sabemos muitos dos que andamos por estas bandas digitais, que o caminho a seguir é este. É inevitável. Daqui a muito poucos anos vai ser assim. De que estamos à espera para entrar na carruagem do comboio que começa a marcha?

OLPC

Ainda a propósito do preço dos manuais escolares de que falo no post anterior, recordo o projecto que tem sido desenvolvido sob a designação One Laptop Per Child (OLPC). Na OLPC Wiki pode ler-se:

It's an education project, not a laptop project.
Nicholas Negroponte

This is the wiki for the One Laptop per Child association. The mission of this non-profit association is to develop a low-cost laptop—the "$100 Laptop"—a technology that could revolutionize how we educate the world's children. Our goal is to provide children around the world with new opportunities to explore, experiment, and express themselves.

Pode ainda ver o vídeo de apresentação do projecto:

Requiem pelo manual escolar

Poucos dias depois de ter lido no Público que um aluno do 7º Ano de escolaridade pode gastar mais de 150 euros pelos manuais adoptados, leio este post no Infinite Thinking Machine que me parece fazer todo o sentido. Um extracto:

Rather than continue to perpetuate this age-old pattern of purchasing behavior in our schools, it's time to declare a moratorium on textbook purchases.

The day of the paper-based textbook is over. The era of digital curriculum has dawned, and it is fiscally irresponsible for school district leaders to continue to purchase paper-based curriculum materials in light of the digital curriculum resources now available and continuing to become available via electronic means. Digital, web-based curriculum materials are vastly superior to static, analog/paper based curriculum materials for many reasons.

Google Earth 4.2... já vem com o céu integrado!


Internet e um projector na minha sala de aula, por favor...

P.S.: Já agora, outras opções para visualizar o céu poderão ser os programas Celestia e Stellarium. Apenas a partir do browser, o Wikisky é um boa opção. Os dois primeiros exigem download e instalação mas têm vantagens na qualidade gráfica...

JiTT, Peer Instruction , Physics by Inquiry

Nos próximos tempos, pretendo aprofundar conhecimentos nas seguintes áreas:

JiTT - Just-in-Time Teaching

Peer Instruction (de Eric Mazur, que deu recentemente uma entrevista ao New York Times)

Physics by Inquiry

"Tecnologia, conteúdos e formação"

"O Programa Tecnológico da Educação — que deverá estar concluído em 2010 — tem como principais objectivos "atingir o rácio de dois alunos por computador com ligação à Internet", garantir em todas as escolas o acesso à Internet em banda larga, a criação do cartão electrónico para todos os alunos e a disponibilização de endereços electrónicos a todos os alunos e docentes.(...)

(...) o "kit tecnológico escola", que visa dotar todas as escolas de um número adequado de computadores, impressoras, videoprojectores e quadros interactivos.

(...) está prevista a ligação de todos os computadores das escolas através de banda larga de alta velocidade, a criação de redes locais e a dotação da totalidade das escolas com sistemas de alarme e videovigilância.

No eixo dos conteúdos, um dos projectos chave é o mais-escola.pt, que visa promover "a produção, distribuição e a utilização de conteúdos informáticos nos métodos de ensino", como por exemplo a criação da sebenta electrónica.

Outros dos projectos deste eixo é a escola Simplex, que tem como objectivo aumentar a eficiência da gestão e comunicação entre os agentes da comunidade educativa, bem como generalizar a utilização de sistemas electrónicos de gestão de processos e de documentação."
Inegavelmente, boas notícias. Mas temo que tanto hardware não se faça acompanhar devidamente de formação. Além de que o aumento da idade da reforma não ajuda nada nesta questão. As coisas são o que são...

O valor da criatividade segundo Ken Robinson

No sumário do vídeo pode ler-se:

"A must-see for every parent and teacher. Education guru Sir Ken Robinson makes an entertaining (and profoundly moving) case for creating an education system that nurtures creativity, rather than undermining it. Sir Ken Robinson is author of "Out of Our Minds: Learning to be Creative," and a leading expert on innovation in education and business. (Recorded February, 2006 in Monterey, CA.)"
O vídeo demora cerca de 15 minutos mas vale bem a pena (ou)ver um grande comunicador como Ken Robinson dizer de outro modo o mesmo que Steiner no post anterior:

Anti-ensino

Em termos estatísticos, o anti-ensino constitui praticamente a norma. Os bons professores - os que alimentam a chama nascente na alma do aluno - são talvez mais raros do que os músicos virtuosos ou os sábios.

George Steiner, As Lições dos Mestres

[via Travessias]

Jogo ajuda a prevenir bullying

De acordo com o JN de hoje, foi criado em Portugal um jogo que ajuda a prevenir o bullying nas escolas.

Desenvolvido pelo GAIPS - Grupo de Agentes Inteligentes e Personagens Sintéticos - do departamento de Engenharia Informática do Instituto Superior Técnico (...) este "jogo" destina-se a apoiar o ensino social e relacional, ajudando o adolescente a entender as dificuldades que enfrenta quem é discriminado ou sujeito a actos de ameaça ou violência dentro da escola. O "bulliyng" - definido pelos especialistas como "um comportamento agressivo repetitivo, que ocorre regularmente" - pode ser concretizado a nível físico - em agressões - ou a nível relacional.
Ver notícia completa.

Let's learn to let them learn!

Aqui fica uma frase para mastigar devagarinho e - provavelmente - para ser de facto compreendida um destes dias subitamente:

Teaching is even more difficult than learning (...) because what teaching calls for is this: to let learn. The real teacher, in fact, lets nothing else be learned than learning. (...) The teacher is ahead of his apprentices in this alone, that he has still far more to learn than they - he has to learn to let them learn.
Martin Heidegger, What is Called Thinking?

[retirada da página de citações de Fernando Ilharco]

Planos de recuperação

A má notícia: se os resultados a Física e Química do 11.º ano já tinham sido maus em 2006, este ano pioraram. Os quase 30 mil estudantes que fizeram o exame não foram além de 7,2 valores de média, a terceira mais baixa de todas. E um em cada três chumbou à disciplina. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considera que a situação é tão preocupante que merece uma "atenção especial e uma mobilização das escolas e dos professores", tal como foi feito para a Matemática no 2.º e 3.º ciclos do básico.
"Até ao final deste ano escolar vamos lançar às escolas o desafio de definirem planos de recuperação dos resultados a Física e Química", anunciou ontem, na tomada de posse do Conselho das Escolas, um novo órgão consultivo da tutela. Os baixos resultados a ciências, que parecem ter-se agravado desde a entrada em vigor dos novos programas e disciplinas da actual reforma curricular, reflectem--se também a Biologia-Geologia, que desceu para 9,1 valores de média.
Em ambos os casos, Maria de Lurdes Rodrigues acredita que a atribuição de mais tempo para actividades experimentais a partir do próximo ano lectivo vai ajudar a melhorar o desempenho dos alunos.
Público, 7 de Julho de 2007

Talvez a Sra. Ministra da Educação não ficasse tão assustada com os resultados de Física e Química se soubesse em que condições funcionam algumas escolas. Saberá ela, por exemplo, que há uma escola básica do concelho de Paredes, distrito do Porto, em que, tantos anos depois de ter sido regulamentado, ainda não se faz o desdobramento de uma aula semanal em Físico-Química, que permita a realização de aulas experimentais dignas? Parece que, por absoluta falta de espaços, não é possível fazê-lo... Assim sendo, a única professora de Físico-Química daquela escola tem de leccionar todas as 12-doze-12 turmas do 3º Ciclo! Não, não se trata de Religião e Moral - é mesmo Físico-Química. Como tem cerca de 315 alunos a seu cargo, a docente vê-se obrigada a corrigir todos os períodos 630 testes escritos! No fim deste ano lectivo, depois de ter corrigido 1890 testes escritos, a professora deve estar entusiasmadíssima com a possibilidade de poder vir a "estabelecer planos de recuperação" para os seus alunos. Se ao menos conseguisse saber o nome deles todos...