Hoje estou numa de metáforas:
Uma família humilde de agricultores tinha de percorrer muitos quilómetros, todos os dias, para levar os seus produtos à feira. Transportava os bens numa carroça de madeira, demasiado gasta, puxada por um burro cansado. Os membros desta família, conhecidos por toda a região e tidos como gente honesta e trabalhadora, andavam sempre exaustos, tal a dificuldade da tarefa que diariamente lhes cabia em sorte.Peço desculpa pela estória canhestra, de tom anacrónico e pouco verosímil, mas foi o que pude arranjar. Perguntar-me-ão a que propósito a coloquei aqui.
Um dia, um homem bom, que deles se compadeceu, num "gesto largo, transbordante" (à moda do Álvaro de Campos...), deixou de surpresa em frente de casa, para os surpreender, um camião novinho em folha.
Quando, passados muitos meses, depois de viajar pelo mundo, o homem bom quis ver como passava agora aquela família humilde de quem se apiedara, verificou espantado que pais e filhos estavam ainda mais cansados, tristes e desesperados do que antes. Querendo saber o porquê de tal situação, deles se aproximou sem nunca revelar que tinha sido ele o benemérito. O filho do meio foi quem tudo explicou: o burro, que já era velho, quase não conseguia puxar o camião, muito mais pesado que a antiga carroça, e tinham de ser os filhos a ajudar o burro, com cordas e muito suor. Perplexo, o homem bom fez a pergunta óbvia: por que não conduziam eles o camião? Ao que o mais velho respondeu, resignado, que aquele camião era muito difícil de conduzir: além de três pedais e um volante, havia uma série de alavancas e botões complicados - era mais simples continuar a utilizar o burro...
Sem querer ferir susceptibilidades, nem armar ao iluminado, sempre direi que todos os dias, à minha volta, me vejo rodeado de pessoas com uma atitude semelhante aos infelizes membros da família acima: possuem ferramentas poderosíssimas, com as quais poderiam fazer muito mais facilmente e de modo mais eficaz o que sempre fizeram - gerir informação, planear actividades, comunicar com os outros, elaborar documentos, estruturar projectos, etc, etc, etc... - com a enorme vantagem de tudo ser feito colaborativamente, sem repetições desnecessárias e dando expressão à criatividade individual.
Mas não é fácil convencer os professores que um computador serve para muito mais do que fazer testes ou planificações e que há muito mais vida além do Word...
Quando vejo tanto computador "generosamente" oferecido, penso se não seria preferível oferecer apenas... cartas de condução.
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